Viúva que mobilizou cidade pedindo por justiça mandou matar o marido, aponta polícia


A Polícia Civil deu detalhes da investigação que levou à prisão Ana Cláudia Flor, viúva do empresário Toni da Silva Flor, de 37 anos, morto há pouco mais de um ano em Cuiabá.

A mulher, que chegou a liderar uma mobilização na cidade pedindo justiça pelo assassinato do marido, agora é apontada como a mandante do crime, que teria sido planejado por motivação financeira.

Toni Flor, de 37 anos, foi assassinado no dia 11 de agosto de 2020. Ele levou cinco tiros quando chegava numa academia. Imagens das câmeras de segurança mostram ele entrando no estabelecimento depois de ter sido baleado.

A vítima ainda passou por uma cirurgia, mas morreu no dia seguinte. A câmera da academia mostra que o atirador fugiu após os disparos.

Investigação

Ana Cláudia Flor disse à polícia que o marido tinha sido vítima de um engano, e que o alvo era um agente da Polícia Rodoviária Federal que frequentava a mesma academia. Mas logo nos primeiros dias de investigação, a polícia descartou a versão de que Toni tenha sido confundido com algum policial na frente da academia. O agente rodoviário só treinava à tarde.

“A vítima saiu de casa às 6:30, o suspeito às 6:45 estava já na porta da academia. Era como se tivesse uma escuta dentro da casa da vítima”, disse o delegado Marcel Gomes de Oliveira, responsável pelo inquérito.

Duas semanas depois, no dia 27 de agosto de 2020, num telefonema anônimo para a delegacia, os investigadores ouviram um nome: Igor Espinosa. E seguiram em sigilo essa nova pista.

“A denúncia informava que o Igor teria comentado que teria matado um lutador de jiu-jitsu na porta de uma academia, e que esse crime teria sido encomendado pela viúva, pela esposa da vítima”, disse o delegado.

Depois da morte de Toni, Ana Cláudia deu entrevistas repetindo a versão do crime por engano. E começou a frequentar a casa da mãe dele. “No dia do meu aniversário, ela veio de tardezinha e falou: pensou que eu esqueci da senhora? Cantou parabéns pra mim”, relatou Leonice da Silva Flor, mãe da vítima.

Além disso, Ana Cláudia organizou uma carreata em homenagem ao marido. “Vou ficar cobrando uma solução!”, disse a viúva, na ocasião. E mandou fazer mais de 100 camisetas para amigos e familiares – ainda restam algumas delas.

Conforme o delegado do caso, quase toda semana a viúva ia à delegacia. “Ela sempre queria saber se havia suspeito. Era sempre essa pergunta: ‘Já tem suspeito?’”, disse Oliveira.

Ana Cláudia e Toni estavam casados fazia 15 anos. Mas segundo parentes dele, a relação sempre foi muito tensa.

“Ele não brigava, ele saía de casa. Pegava a mala e ia para um hotel. Na última vez, avisou que iria mudar de vida. Nesse dia ele falou: ‘Mãe, eu vou separar da Ana’”, disse a mãe. Segundo ela, o filho falou para a então mulher que queria se separar. “Comunicou”, disse.

Prisões, confissão e motivação do crime

No dia 11 de agosto de 2021, exatamente um ano depois do crime, Igor Espinosa foi preso em Cuiabá após morar três meses no Rio de Janeiro gastando o dinheiro que, segundo a polícia, recebeu para matar Toni Flor: R$ 20 mil reais, um terço dos R$ 60 mil que teria acertado com Ana Cláudia.

Quando Igor chegou à delegacia, a viúva de Toni estava lá. Depois, em conversa com um namorado, Ana Cláudia se mostrou preocupada. “Vai sobrar pra mim”, disse ela em uma gravação.

Oliveira afirma que Espinosa deu detalhes sobre o assassinato. “Durante o seu interrogatório, o Igor confessa na íntegra todos os passos do crime, como praticou o crime, quem foram seus intermediadores, inclusive quem foi a mandante. Então no interrogatório, o Igor afirma que quem teria encomendado a morte do Toni teria sido a própria esposa”, disse o delegado.

Ana Cláudia foi presa no dia 19 de agosto e nega que tenha mandado matar o marido. O advogado dela diz que vai provar a inocência. “Ela não cometeu esse crime”, disse Jorge Henrique Franco Godoy. “A denúncia está feita, o Ministério Público tem todo o direito, a polícia fez a sua investigação. Cabe a nós agora refutarmos item por item no decorrer da ação penal”.

Para o Ministério Público, foi na Cláudia quem encomendou a morte do marido. A viúva deve ir a júri popular.

“Não há qualquer dúvida de que ela foi a mandante desse homicídio”, disse o promotor Samuel Frungilo, que afirmou ainda que “ficou claro” que a motivação do crime seria o patrimônio de Toni Flor. “[Ela] Não queria, com a separação, dividir os bens do casal. Esse foi o principal motivo do crime”, disse

Segundo a família, Toni não tinha bens em seu nome, mas estava crescendo financeiramente com a empresa de representação comercial de produtos alimentícios. Tinha uma renda de R$ 50 mil por mês. Depois da prisão de Ana Cláudia, todos os contratos foram desfeitos.

Igor Espinosa não constituiu defesa. Esta semana a prisão dos dois passou de temporária para preventiva.

Filhas

Familiares dizem que Toni era muito apegado às três filhas e espalhava amor por toda a família. “Muito querido, muito bom pra mim. Dia sim, dia não ele me ligava. Me chamava de veia: ‘ô veia, tá precisando de alguma coisa?’. Eu falava não. ‘Se precisar me liga que eu levo’”, recorda a mãe, Leonice da Silva Flor.

Viviane Aparecida da Silva Flor, irmã da vítima, não esconde a indignação com as suspeitas sobre Ana Cláudia.

“Parece que eu tinha levado um murro na boca do estômago, sabe? Se teve uma pessoa que confiou nela fui eu. Porque eu sempre pensava assim, ela não teria coragem de ter feito isso porque ela sabia o quanto aquelas meninas amavam o pai, o quanto esse pai amava aquelas filhas”, disse. “Ele que levava na escola, ele que buscava na escola. Ele sempre foi um pai muito presente. O sonho dele sempre foi ser pai”.

Weverson Rocha, amigo da vítima, disse que Toni estava muito satisfeito com a vida de empresário. “Estava indo bem na empresa, o sonho dele era ter essa empresa”. E afirmou estar preocupado com as filhas do casal. “Agora como ficam as meninas? Sem mãe, sem pai”.

As meninas estão morando com a avó materna. “O fato dela planejar e depois ficar um ano ali do nosso lado, nos torturando, nos pressionando e convivendo com a nossa dor, chorando junto com a gente. Eu sinto nojo de tudo isso”, desabafou Viviane.

G1

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