Nos últimos dias, o país tem acompanhado com preocupação os acontecimentos do Grande do Sul. Há 20 anos, Crateús também enfrentava uma enchente destruidora.
O ano de 2004 deveria ser como qualquer outro na cidade de Crateús. Sobre o tempo, alguns apontavam para uma boa quadra invernosa, enquanto outros pensavam que o inverno não teria nada de surpreendente. O que ninguém esperava era que um fenômeno meteorológico viesse a atingir parte considerável do Nordeste, causando um temporal de 15 dias em Crateús que teria um efeito catastrófico.
Nunca havia sido registrada na região quantidade igual de chuvas em apenas 15 dias. O alto volume das precipitações pluviométricas causou, no Ceará, danos a cerca de 6.000 casas, ao passo que 2.000 foram totalmente destruídas. Em Crateús, contabilizaram cerca de 500 imóveis danificados e 190 destruídos.
Além de imóveis particulares, a chuva também danificou os bens públicos. Barragens e açudes arrombavam por incapacidade de manutenção de tanta água. O Açude do Governo, por exemplo, mostrava indícios de que não suportaria tamanho volume de água, levando pânico à população. Uma força-tarefa de agentes públicos e civis precisou ser montada para mitigar os riscos do rompimento do reservatório.
A ponte dos Patriarcas teve parte de sua estrutura destruída pelas águas, o que impedia a travessia de automóveis e pessoas. Uma escada de madeira improvisada, muito íngreme, possibilitava que pessoas, mesmo arriscando suas vidas, pudessem ter acesso ao outro lado da ponte. De Crateús a Sucesso, 300 metros de linha férrea foram destruídos, descarrilando um trem.
A cidade teve sua organização alterada. Aulas foram suspensas, e empresas, temporariamente, fechadas. Muitas pessoas que moravam no entorno do Rio Poti tiveram que abandonar suas casas, pois as águas fluviais já invadiam esses imóveis.
Desse modo, a Enchente de 2004 foi um dos eventos mais angustiantes da história recente do município. Quem vivenciou sempre trará consigo as memórias daquele ano incomum.
FOTO: ACERVO DO AUTOR
Texto escrito por: Kaio Martins, Cientista Político.