Não estamos exagerando quando dizemos que Crateús sempre participou dos grandes acontecimentos do país. O episódio que agora contaremos é do ano de 1927 e mostra o dia em que a cidade parou para pedir ajuda espiritual a fim de que Lampião e seu bando não invadissem a cidade.
O líder do cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, nasceu aos quatro de junho de 1896, em Pernambuco. Considerado o maior representante do banditismo do Século XX, o homem entrou para as páginas de livros e jornais como aquele que, com o intuito de agir em nome de uma causa tida como justa por ele, saqueava propriedades; estuprava mulheres; sequestrava pessoas e matava opositores.
Para encerrar as atividades do grupo, o governo empregou grande investimento. Volante era o nome dado às tropas das forças de segurança que tentavam capturar os membros do cangaço pelos sertões nordestinos.
Uma das mais conhecidas batalhas travadas pelos cangaceiros aconteceu em Mossoró, e foi chamada de “Batismo de Fogo”. Lá, pela primeira vez, o bando teve um ataque frustrado, de modo que, às pressas, precisou empreender fuga para não serem exterminados pelas forças públicas.
Na fuga, Lampião e os demais cangaceiros entram no Ceará. Espalham-se notícias suas já em Limoeiro do Norte. Vazada a informação de que o grupo se dirigiria ao Cariri cearense, acataram a real possibilidade de que, para cumprirem a rota, pudessem entrar em Crateús.
Com a população apavorada, no dia 20 de julho de 1927, a cidade resolve parar suas atividades e se reunir em um novenário. O intuito da atividade religiosa era um só: rogar a Deus para que dissuadisse os cangaceiros de invadir Crateús.
Fato é que, por obra divina, Lampião não entrou em Crateús. Dias depois, notícias já apontavam que os homens já se encontravam em Milagres-Ce, cidade a mais de 400 quilômetros de distância de Crateús.
Vê-se, pois, que a fé do povo crateuense, quando unida, blinda a cidade dos mais variados males. É a fé popular que cria cercas através das estacas dos cruzeiros de Frei Vidal, dos quais falaremos em breve, a fim de que o mal não adentre ao município.
Texto escrito por: Kaio Martins, Cientista Político.