Quem viveu nos anos iniciais do segundo milênio e passou por Crateús provavelmente se lembrará de algumas personalidades que perambulavam pelas ruas. Uma dessas figuras era o conhecido Lesbão.
Lesbão, cujo verdadeiro nome era Antônio, era uma pessoa tranquila. Alguns de seus modos, contudo, chamavam a atenção de quem o via. O nomadismo com o qual conduzia sua vida era uma das características mais marcantes. A cada semana, ele escolhia "montar acampamento" em um local diferente, bastando que tal local tivesse duas árvores para armar sua rede. Depois de definido o ponto de estadia, passava a conduzir seus dias com base nas doações das pessoas do entorno. E era com essas doações que mantinha sua subsistência.
Além de comidas, Lesbão recebia doações diversas, mas existia um tipo específico que mais o agradava: roupas. Era marca de sua identidade o amontoado de roupas que vestia uma por cima da outra. Quanto ao estilo, não fazia distinção e não possuía preferência, podendo ser peças de todos os gêneros, inclusive vestes femininas, o que mais o diferenciava.
Sentindo-se acolhido, Lesbão não mostrava traços de tristeza. Ao contrário, por vezes, era muito atencioso com quem puxava assunto, sempre com um olhar que mostrava sorriso.
Contudo, mesmo vivendo graças aos cuidados de quem não o conhecia, foi pela omissão que Lesbão veio a perecer. Em maio de 2010, foi atropelado na Rua Cel Zezé, em Crateús. O motorista omitiu-se, saindo sem prestar socorro, deixando Lesbão para trás como se fosse uma coisa sem importância. Socorrido para o Hospital São Lucas, não resistiu aos ferimentos e veio a falecer. Em Montenebo foi sepultado, de acordo com o blog do ex-prefeito Mauro Soares.
Assim, partia para sempre uma das personalidades que marcaram esses 192 anos de Crateús, continuando, contudo, em nossa memória.
Texto escrito por: Kaio Martins, Cientista Político.