Em novembro de 1953, algumas cidades cearenses estavam no mapa programático da visita da imagem de Nossa Senhora de Fátima, vinda de Portugal. Um caso inusitado, contudo, ocorreu em Crateús, e é sobre isso que falaremos agora.
Uma força-tarefa foi montada na cidade para festejar a chegada da imagem. Com o intuito de marcar essa passagem, ordenou-se que fosse construído o Arco de Fátima, na Rua Dom Pedro II, a ser inaugurado durante a visita, que ocorreu no dia 10.
Há três estudos sobre o evento, que divergem entre si: um é do Pe. Geraldo; outro de Flávio Machado; e um terceiro do Pe. Bonfim, vigário na época do acontecimento.
De acordo com Geraldo, houvera sido programado um pernoite da imagem em Crateús, o que depois foi desmarcado, levando os crateuenses à indignação. O segundo pesquisador afirma que houve um atraso na chegada da santa, o que comprometeu o tempo em que ficaria na cidade.
O ponto central da discordância se dá em relação às circunstâncias em que a imagem acabou ficando na cidade. Enquanto Geraldo afirma que foi declarado pelo juiz da cidade, Dr. Olavo Frota, que a imagem não sairia, pois havia um bloqueio no campo de aviação impedindo o voo, Flávio afirma que houve um retardo na estadia da imagem, o que dificultaria o voo noturno para a cidade de Tauá, visto que lá não havia iluminação no campo de pouso.
De todo modo, há uma concordância: a imagem ficou em Crateús durante toda a noite, para a devoção dos religiosos. Pelo ocorrido, houve um bombardeio de narrativas, em que apontavam para a informação de que Crateús havia prendido a santa, notícia veiculada inclusive pela emissora BBC de Londres.
O bispo de Sobral, Dom José, suspeitou de que a “prisão” fora premeditada por um complô liderado pelo vigário, Pe. Bonfim, e por autoridades civis, políticas e judiciárias. Assim, o bispo penalizou Crateús, ordenando que fosse fechada a igreja, e que o Santíssimo Sacramento fosse conduzido da Matriz para outra igreja, tendo sido levado para Nova Russas.
Desse modo, o arco da Rua Dom Pedro II não relembra só a passagem da imagem por aqui, mas, sobretudo, a sua “prisão”, comentada no mundo todo.
*Texto escrito por: Kaio Martins Gomes, Bacharel em Ciência Política.*