Pelo menos três cheias do Rio Poti foram noticiadas em livros e escritos do município. A primeira delas, e menos detalhada, foi a de 1924, em que os relatos são imprecisos e ainda não era possível traçar paralelos, já que a cidade ainda era pouco desenvolvida.
A enchente de 2004, aqui já noticiada, é a que mais reacende a memória do crateuense, sobretudo por ter sido a que abriu o milênio e pegou parte da população de surpresa.
Entre 1924 e 2004, contudo, outra enchente aconteceu e é dela que falaremos agora.
Contam-nos os escritos que aquele ano nada tinha de anormal. A cidade, como era comum, seguia sem grandes expectativas. O prefeito da época era o Sr. Antônio Soares Lins, que houvera no ano anterior substituído o Sr. Zé Camerino. Ninguém esperava, mas se avizinhava a maior enchente da história do município.
A memória de parte dos habitantes ainda tinha resquícios de 1924, quando as águas do rio alcançaram cerca de 15 cm em casas da Rua Padre Macedo. Aquela marca, contudo, seria ultrapassada. Nos mesmos locais onde traçaram a medida, o rio ultrapassou em muito, mostrando que em 1974, a enchente era superior à do outro ano.
Contam-nos os memorialistas que, inicialmente, Crateús isolou-se de outras cidades da região. As únicas formas de comunicação se davam pela então COTELCE, empresa de telefonia, e por um avião que vinha à cidade para trazer mantimentos.
Diante de tamanho problema causado pelas águas, agravado pelo isolamento da população, a Diocese de Crateús lançou uma nota com o seguinte teor: “o povo de Crateús não transferiu a esperança de encontrar uma saída para resolver o problema [...], ele mesmo buscou a solução, transformando-se, portanto, em agente de seu próprio desenvolvimento [...]”.
Acerca do ocorrido, os registros mostram que o povo crateuense sempre se empenhou a fim de transformar a realidade que o permeia. Nunca terceirizou seus problemas, buscando para estes, solução rápida e necessária.
Completando 100 anos desde a primeira grande enchente do Rio Poti, há 50 vivíamos outro momento caótico - que ficou registrado nos livros e na memória da nossa população.
FOTO: Acervo do autor.
Texto escrito por: Kaio Martins, Cientista Político.