Delmiro Gouveia: O Cearense de Ipu que Revolucionou a Indústria Brasileira e Enfrentou Gigantes Estrangeiros.

Linhas Corrente versus Linhas Estrelas. 

Nascido em 1863 na cidade de Ipu, no sertão do Ceará, Delmiro Gouveia se destacou como um dos primeiros industriais a investir no desenvolvimento do Nordeste brasileiro. Em uma época marcada pela dependência de produtos importados e pelo controle estrangeiro sobre o mercado nacional, ele lançou a linha de fios “Estrela” e desafiou diretamente a poderosa Machine Cottons (linhas corrente), uma empresa britânica que dominava o setor têxtil no país.

Delmiro Gouveia iniciou sua vida em meio ao sertão cearense e, com visão arrojada, logo viu potencial no desenvolvimento local. Na cidade de Pedra (hoje Delmiro Gouveia), no sertão alagoano, ele estabeleceu em 1914 a Fábrica da Pedra, uma das primeiras indústrias têxteis do Brasil, utilizando energia hidrelétrica gerada pela usina que ele mesmo construiu na cachoeira de Paulo Afonso. Com essa inovação, Delmiro desafiava não apenas a precariedade econômica do sertão nordestino, mas também o domínio de multinacionais europeias, que faziam do Brasil um grande mercado consumidor de produtos manufaturados.

Foi com o lançamento da linha “Estrela” que Delmiro deu início à maior concorrência de sua carreira. A “Estrela” era uma linha de algodão de alta qualidade e preço competitivo, ideal para o mercado brasileiro. Esse produto passou a ser visto como uma ameaça para a Machine Cottons, que dominava o mercado com seus produtos importados. A linha de Delmiro Gouveia começou a ganhar espaço e reduzir as vendas da empresa britânica, ao mesmo tempo em que trazia um símbolo de orgulho para o Brasil.

Para a Machine Cottons, perder mercado para uma empresa nordestina parecia inaceitável. Por isso, a concorrente não mediu esforços para tentar barrar o crescimento da “Estrela”. Além de boicotar fornecedores de Delmiro, a empresa britânica também teria oferecido propostas para a compra da Fábrica da Pedra. Delmiro recusou todas as tentativas, mantendo-se firme em sua missão de promover um produto genuinamente nacional.

A crescente popularidade da “Estrela” e a recusa de Delmiro em vender sua fábrica acabaram culminando em um final sombrio. Em 1917, o industrial cearense foi assassinado a tiros em sua própria residência, em circunstâncias nunca totalmente esclarecidas. Logo após sua morte, a fábrica foi vendida e desativada, com muitos dos equipamentos sendo enviados para fora do país, em um possível esforço da Machine Cottons para eliminar a concorrência no Brasil.

Delmiro Gouveia é lembrado hoje não apenas como um empreendedor visionário, mas como um símbolo de resistência. Sua história inspira pela coragem de enfrentar gigantes internacionais e pelo compromisso com o desenvolvimento do Nordeste e do Brasil. Mesmo décadas depois, sua trajetória nos lembra da importância da autonomia industrial e da força que um cearense do sertão pode ter ao transformar desafios em grandes feitos.

Em meio a um cenário político e econômico dominado por interesses estrangeiros, Delmiro Gouveia, com raízes no sertão de Ipu, mostrou que era possível sonhar alto e construir um país independente, valorizando o trabalho e os recursos locais.

Por Wilton Sales

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