No sertão do Ceará, na localidade de Monte Nebo, zona rural de Crateús, a história se esconde entre morros e vales. Esse cenário de paisagens imponentes e aparentemente silenciosas guarda um dos episódios mais sombrios da resistência indígena na região: o Massacre da Furna dos Caboclos.
Por volta de 1860, os indígenas que habitavam Monte Nebo viviam da caça, da pesca e, em tempos difíceis, flechavam o gado que atravessava a região para sobreviver. No entanto, a paz dessas comunidades foi brutalmente interrompida. Vaqueiros locais, incomodados pela presença dos indígenas e suas práticas de subsistência, uniram-se para eliminá-los. Com uma falsa fachada de amizade, um dos vaqueiros infiltrou-se entre os indígenas e, em uma noite traiçoeira, cortou as cordas de seus arcos enquanto dormiam, deixando-os indefesos. Na manhã seguinte, os vaqueiros atacaram a furna e massacraram impiedosamente os indígenas.
Apenas uma menina sobreviveu a esse massacre. Isolada e forçada a viver entre seus algozes, ela encontrou maneiras extremas de sobrevivência, alimentando-se de baratas e insetos. Seus descendentes, que herdaram o sobrenome “Barata”, são hoje uma lembrança viva desse episódio cruel.
Até hoje, ossos e vestígios dos indígenas repousam na furna, silenciosos testemunhos das injustiças daquele tempo. Monte Nebo tornou-se não apenas um ponto geográfico, mas um símbolo da resistência e da dor de um povo cuja história quase foi apagada.
Os descendentes Potyguara que guardam a memória do Massacre da Furna dos Caboclos não querem que essa história seja esquecida. Hoje, eles reivindicam não apenas o direito à terra, mas o direito à memória – à lembrança e ao reconhecimento. Monte Nebo nos ensina que, mesmo diante da violência, a memória pode sobreviver e inspirar reflexão. Quantos outros “Monte Nebo” existem, aguardando que suas histórias sejam contadas e suas feridas sejam honradas?
Por Wilton Sales