Tragédia centenária que ainda hoje é lembrada em Poranga


Certa vez passei por um local conhecido como Barracão, em Poranga. Lá, uma cruz solitária chamou minha atenção. Curioso, comecei a perguntar a amigos e ouvir relatos sobre um evento sangrento que marcou a história da cidade. Assim, mergulhei na pesquisa sobre o que ficou conhecido como a Hecatombe de Várzea Formosa, um massacre ocorrido em maio de 1911 e que ainda está na memória da população.

O episódio aconteceu em um contexto de mandonismo, onde coronéis e chefes políticos exerciam um poder quase absoluto sobre nosso território. A região vivia sob um clima de rivalidades políticas e familiares, que frequentemente resultavam em tragédias. Segundo o jornal O Rebate, que publicou a notícia em 27 de maio de 1911, a tragédia envolveu os irmãos José e João Malachias, vítimas de uma emboscada mortal liderada pelo chefe político José Gomes e aliados.

Os relatos apontam que, na manhã do dia 9 de maio, José Malachias foi atraído para uma armadilha ao retornar do açougue com sua filha. Em um ato de traição, José Gomes apertou-lhe a mão para distraí-lo enquanto outro membro do bando, Jucundo, o apunhalava. João Malachias, ao ouvir os gritos, correu para socorrer o irmão, mas também foi brutalmente atacado, recebendo seis facadas antes de ser baleado ao tentar fugir.

O massacre deixou um rastro de dor para muitas famílias. Vinte crianças ficaram órfãs e a viúva de José Malachias estava grávida, aumentando a dimensão da tragédia. Além disso, o caso expôs a cumplicidade das autoridades locais, que nada fizeram para evitar ou punir os responsáveis. Conforme o jornal denunciou, a justiça estava subjugada aos interesses dos “mandões”, reforçando o ciclo de impunidade.

Embora a hecatombe tenha ocorrido há mais de um século, a memória do evento permanece viva. O local do massacre, onde hoje se encontra “Barracão”, carrega símbolos dessa história, como a cruz que me despertou o interesse inicial. Os moradores mais antigos ainda contam histórias passadas de geração em geração, mantendo viva a lembrança dos Malachias e dos dias sombrios que assolaram Várzea Formosa.

Por fim, ao revisitar essa tragédia, espero não apenas preservar a memória do ocorrido, mas também trazer luz a uma história que merece ser contada e conhecida, tanto por respeito às vítimas quanto para que possamos aprender com os erros do passado.

Por Wilton Sales

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