Era sempre assim, toda sexta, às 17h, Chico Neném estacionava o velho Chevrolet D-70 na rua Dom Pedro II, próximo à Caixa Econômica. O caminhão, com sua carroceria de madeira, aguardava os habituais passageiros. Homens, mulheres carregando bolsas e sacolas e suas crianças com olhos curiosos subiam pela escadinha de ferro, já desgastada pelo uso.
O destino? Santo André, a 50 quilômetros de distância. Mas ninguém se enganava, aquela viagem não era rápida. A poeira das estradas secas fazia cócegas no nariz, enquanto as conversas animadas preenchiam o silêncio do sertão. Quando chovia, o cenário mudava. A lama desafiava as rodas do velho D-70, e a lona esticada virava o único escudo contra as gotas insistentes que tentavam atravessá-la.
O povo, acostumado, esperava com paciência quando Chico Neném parava em algum lugar para conversar, carregar o caminhão ou simplesmente esticar as pernas. O preço da passagem era sempre barato, e ninguém reclamava. Os sortudos, especialmente as mulheres grávidas, tinham lugar garantido na “bulé”, a cabine do caminhão, onde o balanço era mais suave.
E assim seguíamos, embalados pelo ronco do motor e o balanço da carroceria. O caminho parecia longo, mas o tempo não importava. Aquele caminhão era mais que transporte; era encontro, história e resistência. No domingo, às 17h, tudo se repetia. Mas cada viagem trazia novas histórias para guardar e contar.
Por Wilton Sales