No sertão de Poranga, entre serras e rios, desenhou-se um palco de disputa: a “pequena faixa de terra entre o Rio Macambira”. Aquilo não era apenas terra, mas sim um símbolo do orgulho de um povo. De um lado, o Piauí resistia; do outro, o Ceará, com a astúcia de seus representantes entre eles o Senador Jaguaribe, traçava estratégias para consolidar sua hegemonia.
Thomaz Pompeu de Souza Brasil, geógrafo de precisão e alma cearense, tomou o mapa em mãos. Rios, serras e vilarejos marcavam o cenário que ele conhecia tão bem. Sua pena traçou o projeto que levaria ao decreto imperial: uma linha partindo da Serra Grande, passando pelo Poty e chegando ao Rio Macambira, como quem desenhava com o cuidado de um artista.
No Senado, a batalha era travada. Vozes como a do maranhense Cândido Mendes tentavam redirecionar os ventos da história, mas os cearenses, liderados por viscondes e deputados, mantinham-se firmes. No fim, o desejo do Ceará prevaleceu, e o decreto foi firmado. Assim, terras como Príncipe Imperial (hoje Crateús), Independência e a Serra dos Cocos (matriz de Ipueiras) foram unidas ao Ceará, selando o fim dessa disputa.
A faixa de terra da Macambira, escondida entre mapas antigos e histórias esquecidas, permanece como um lembrete do poder da geografia e do espírito de um povo lutador. Hoje, ao contemplarmos seus traços no velho mapa de Lomellino, revivi essa disputa que ultrapassou as linhas e fez parte de algo maior, o amor por um lugar chamado Ceará.
Por Wilton Sales